A Verdade: A origem de certos estados emocionais lhe são inacessíveis, e quando pressionado a explicá-los você simplesmente inventará uma justificativa.
Primeiramente olhe essa foto:
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Essa é uma das peças mais populares do DevianArt.com |
Agora imagine que você tem que escrever uma resenha explicando o por que dessa obra ser tão popular. Não continue a leitura, dê uma chance para esse experimento, pare e tente fazer uma pequena resenha, mesmo que seja apenas em sua cabeça. Por que essa foto é tão boa?
Continuemos
Existe uma certa música que você ama, ou alguma obra de arte que tem apego? Talvez você tenha algum filme preferido que reassiste várias vezes durante a vida, ou um livro. Imagine qualquer uma dessas obras, algo que você realmente gosta. Agora, em uma frase, tente explicar o por que de você gostar tanto dessa obra em particular.
Uma das possibilidades é você achar muito difícil colocar isso em palavras, mas se for pressionado a isso, certamente escreverá alguma coisa minimamente coerente. O problema é que, de acordo com as pesquisas, sua explicação não passará de bobagens.
O Poster
Tim Wilson, da University of Virginia, demostrou isso com um teste chamado "O Poster". Ele trouxe um grupo de estudantes em uma sala e mostrou uma série de cartazes, os estudantes podiam simplesmente pegar o cartaz que mais lhe agradava e ficavam com eles.
No outro grupo ele fez um pouco diferente, mostrou os cartazes aos estudantes e pediu para que eles justificarem sua escolha antes de poder pegar os cartazes. Depois disso esperou por seis meses e foi atrás dos estudantes para perguntar se eles estavam satisfeitos com sua escolha.

Os primeiros estudantes pegaram, em sua maioria, alguma pintura, ou algo abstrato. O segundo tendia a pegar posters motivacionais, como um gato agarrado a uma corda.
Ok, mas o que isso quer dizer na prática?
Essa pesquisa trouxe uma série de questionamentos que contesta toda a indústria de análise crítica de arte, jogos, música, cinema, poesia, literatura, etc. Além de pesquisas de mercado, que observado pela ótica desse experimento, não passaria de chutes imprecisos.
Quando você pergunta para uma pessoa o por que ela gosta ou não gosta de algo, ela passará por um processo em que terá que transformar um profundo sentimento completamente irracional, em uma linguagem formal, racional e lógica. O caminho dessa interpretação parece simples, no entanto o caminho entre uma linguagem puramente emocional para a racional é tortuoso. Além disso, quando você tem que criar uma justificativa desse tipo você se questionará na forma como sua justificativa demonstra sua personalidade.
No exemplo d"O Poster", a maioria das pessoas se sentiram mais tentadas a escolher uma pintura abstrata, mas seria muito mais difícil explicar racionalmente essa escolha, por isso preferiram um poster motivacional, assim poderiam justificar com qualquer bobagem que viesse à mente.
O outro experimento
Em um experimento similar feito pelo mesmo psicólogo d"O Poster", ele mostrava às pessoas duas pequenas fotos de duas pessoas diferentes, então perguntava qual das duas pessoas era mais atraente. Depois ele entregou uma foto maior, com uma pessoa diferente das duas primeiras e falava que essa tinha sido sua escolha. Ao serem questionados dos motivos de sua escolha, eles não percebiam que a foto tinha sido trocada e acabavam justificando sua escolha de forma completamente arbitrária.
Essa crença de que você sabe racionalmente o porque de suas escolhas é chamada de Introspecção Ilusória. Você acredita que conhece a si mesmo, acredita que sabe os motivos pelo qual você é o que é, e acredita que esse conhecimento diz algo sobre como você agirá no futuro. Mas a pesquisa mostra o contrário.
Vez por vez os experimentos vão mostrando que a "introspecção" não é uma profunda busca interior, mas sim uma fabricação de uma ficção que seja minimamente coerente com parte de seus sentimentos. Você só passa o olho naquilo que sentiu e cria uma justificativa que seja possível acreditar.
Até o ato de ter que se justificar te muda
Se você tem que fazer essa justificativa para os outros, você também se esforça para que elas acreditem. Veja que para pessoas diferentes você usará uma justificativa um pouco diferente, pois você sabe mais ou menos no que a pessoa está apta a acreditar, baseada na relação que você tem com ela. Em verdade é possível que você explique o mesmo "sentimento" de forma completamente diferente para pessoas diferentes.
Outro ponto interessante é que você pode modificar seu discurso completamente dependendo do feed back de seu interlocutor. Um bom exemplo é quando você está falando de uma obra (filme, seriado, livro) que gosta e assim que alguém fala que não gosta por algum fator específico, você assimila essa fator, ou tenta justificá-lo.
Escolhas de momento

Quando você está de mal humor um filme de comédia pode parecer um porre e vice versa. É comum você estar feliz, bêbado e de bem com a vida em uma festa e adorar todas as pessoas que estão lá naquele momento, mas no dia seguinte, acordando de ressaca, você verá que as pessoas que pareciam reluzentes na noite anterior não são assim tão interessantes. Nem preciso dizer as implicações disso no que conhecemos como "paixão", né?
De fato já é muitíssimo difícil controlar nosso estado de espírito, mais difícil ainda é controlar a forma como esse estado faz com que interpretamos o mundo ao nosso redor. Tentar justificar nossos gostos portanto, é mera ilusão.
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Texto original: http://youarenotsosmart.com/2010/05/26/the-perils-of-introspection/