quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Café

O Equívoco: Café te estimula.

A Verdade: Você se torna viciado em cafeína muito facilmente, e logo você estará tomando café apenas para fazer o sistema nervoso voltar ao estado normal.

Aquele cheiro de café pela manhã é inebriante, imediatamente você viaja para um mundo em que tudo parece ser possível, assim que a primeira xícara é degustada você se sente cheio de energia, como se tivesse acabado de voltar a vida.

De repente você se sente como John Nash (o matemático de Uma Mente Brilhante), seu cérebro parece funcionar melhor, seu raciocínio fica rápido, qualquer resposta parece estar na ponta da língua.

O café parece ter uma força mágica que te torna uma pessoa melhor, só que esse efeito é apenas uma ilusão.

A verdade é que depois que você passou a tomar café por um tempo, a sensação que ele dá não é entre você normal e o "super você", mas sim entre um viciado em abstinência e um viciado que acaba de ter a abstinência satisfeita.

A explicação é muito simples, a cafeína é antagonista da adenosina. Isso significa que ela compete com a adenosina pelos mesmos receptores. A adenosina é responsável por suprimir seu sistema nervoso, age na diminuição dos batimentos cardíacos, diminui a atividade das células nervosas e também é responsável por regular o sono. A cafeína age nas mesmas células nervosas da adenosina, portanto muda o funcionamento natural das células nervosas e faz você ficar elétrico e acordado, também causando dificuldade de dormir.

Conforme você passa a beber café várias vezes ao dia, o cérebro vai abrir mais receptores na esperança de captar adenosina além de cafeína. Com o aumento de receptores ele balanceia o efeito de ambos durante os períodos que você toma café, no entanto quando você deixa de tomar café há muito mais espaço para a adenosina, o que inevitavelmente lhe trará sonolência e cansaço.

Ou seja, você condicionou o seu organismo a se adaptar a uma quantidade X de cafeína e quando você não está com essa cafeína no organismo os receptores captam mais adenosina do que o normal. Para sair dessa sensação você imediatamente vai tomar café, apenas para balancear o efeito.

Além disso o café estimula as glândulas supra-renais liberando adrenalina, isso aumenta a sensação de que você é "invencível". A sensação que a adrenalina causa já é em si algo viciante, por isso você tomará ainda mais café para manter essa sensação. No entanto, depois de algum tempo com a adrenalina sendo bombeada incessantemente você simplesmente "desliga".

O café também libera dopamina, uma substância química que causa bem-estar no cérebro, a mesma que é liberada quando você tem um orgasmo ou quando acontece algo excepcionalmente bom em sua vida. Manter um ciclo curto de liberação de dopamina pode te levar à depressão e fadiga quando você sai desse ciclo.

Você pode pensar que isso demora um bom tempo para acontecer, mas uma pessoa comum precisa de apenas sete dias para se viciar em cafeína. Uma vez viciado você vai começar a tomar café o dia inteiro, somente para ficar "normal".

Ou seja, no final das contas o café não está te mantendo alerta como você pensa, ele está apenas te mantendo normal.

Mas essa pelo menos não é uma dependência tão forte como outras drogas como cocaína ou anfetaminas. Você certamente sentirá períodos de abstinências se parar de tomar café, mas não é tão forte, o café parece não afetar as estruturas dopaminérgicas relacionadas a recompensa. Mas mesmo assim pode não ser tão fácil largar esse vício, tente ficar sem tomar café por duas semanas para ver como é difícil.

Mas não se desespere, a maioria das pessoas também não sabem disso e, assim como você, elas não são tão espertas como pensam.

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Texto Original:  http://youarenotsosmart.com/2010/02/22/coffee/

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Desistência Condicionada

O Equívoco: Se você está numa situação ruim você fará de tudo para sair dessa situação.

A Verdade: Quando você sente que não está mais no controle de seu destino, você vai desistir e aceitar a situação em que você se encontra.

Em 1965 um cientista chamado Martin Seligman fez um experimento que consistia em aplicar pequenas descargas elétricas em cachorros. Ele estava tentando ampliar a pesquisa de Pavlov - que conseguiu condicionar cachorros a babar quando ouviam uma campainha.

Seligman foi pela via contrária, em vez de dar comida ao cachorro quando tocava a campainha ele dava um choque elétrico. Para fazê-los ficar quietos ele mantinha o animal em uma grade durante o experimento.

Depois de condicionados, ele colocava os animais em uma grade maior dividida em dois compartimentos com uma pequena portinhola que levava de um a outro. Ele imaginava que quando tocasse a campainha o cachorro instintivamente tentaria passar de um lado para o outro.

Mas isso não aconteceu, o cachorro simplesmente continuava sentado no mesmo lado, aceitando seu destino sem lutar por mudança. Ele tentou também dar o choque após tocar a campainha (para dar tempo para ele fugir), mas não adiantava, o cachorro continuou aceitando seu triste destino. Quando ele colocava na grade dupla algum cachorro que não tinha sido condicionado com choque, ele imediatamente pulava de um lado para o outro quando tomava o choque.

Somos exatamente como esses cachorros

Se ao longo de sua vida você experimentou uma derrota devastadora, abusos reincidentes ou a perda do controle de sua própria vida, você aos poucos aceita que não há como escapar. Depois de condicionado você não aceitará soluções ou rotas de fuga que lhe forem oferecidos, você senta e aceita seu destino se tornando completamente pessimista, ou até mesmo um niilista.

Estudos feitos a partir de pessoas clinicamente deprimidas mostra que quando elas falham simplesmente desistem e não tentam novamente. Uma pessoa normal vai procurar alguma força externa para colocar a culpa quando ele falha, vão dizer que o professor é um idiota ou que não tiveram uma boa noite de sono, etc. Já os deprimidos simplesmente culpam a si mesmos e assumem que são incapazes.

Em eleições por exemplo vemos várias pessoas que falam que vão anular o voto pois acham que não importa qual candidato ganhe, nada mudará, que todos os políticos são corruptos e que apenas um voto em meio a milhares não tem nenhum valor. Isso é um exemplo de quem tem a desistência condicionada.

O condicionamento

Mulheres que apanham em casa, reféns, ou crianças vítimas de abuso por um longo tempo agem da mesma forma, eles se recusam a fugir ou resolver o problema de alguma forma, pois foram condicionados a desistir de tentar, e portanto acham que qualquer tentativa é inútil. E se essas pessoas conseguem sair dessa situação elas ainda ficarão marcadas para sempre e dificilmente conseguirão se comprometer com qualquer situação que tenha possibilidade de falha.

Qualquer situação negativa que se estende por um longo período de tempo vai minar sua vontade de lutar, vai fazer você ceder ao desespero, desistir e aceitar seu destino. Se você ficar sozinho por muito tempo você aceitará a solidão como um fato e deixará passar qualquer oportunidade de se encontrar com outras pessoas.

A perda de controle em qualquer situação poderá te levar a esse estado. Em 1976 Langer e Rodin fizeram um estudo em casas de repouso, lugar onde normalmente as pessoas tinham tudo nas mãos. Os pacientes eram condicionados a serem passivos e conformistas e por causa disso a saúde deles ficava debilitada mais rapidamente. Quando eles dão responsabilidades e escolhas para essas pessoas elas se mantém saudáveis e ativas.

Essa pesquisa foi repetida também nas prisões. O simples ato de deixar que os presos pudessem mover móveis ou ter o controle da televisão evitava que eles adoecessem e até mesmo diminuia a possibilidade de revoltas. Em abrigos acontecia o mesmo, quando as pessoas não podiam escolher sua cama ou comida elas eram menos propensas a procurar emprego ou um lugar para morar.

Pequenas vitórias

Quando você consegue sucesso em pequenas tarefas as tarefas mais difíceis também vão parecer possíveis de se concretizar. Quando você não consegue ter sucesso nas pequenas tarefas tudo parece mais difícil.

Todos os dias você sente que não está no controle de seu destino, seja por problemas no trabalho, vícios, depressão ou dinheiro. Mas você ainda tem algumas pequenas escolhas, seja mudando um pequeno elemento de sua rotina, saindo para caminhar, indo em festas ou mesmo participando de "revoluções" virtuais.

Essas escolhas, mesmo as mais pequenas podem segurar o peso arrasador do desamparo, mas você não pode parar por ai. Você deve lutar contra esse condicionamento constante da desistência. Falhar algumas vezes é completamente natural, mas para conseguir aquilo que você quer você terá que se levantar sempre e continuar firme. O seu destino é você que constrói.

Você não é tão esperto quanto pensa, mas é mais inteligente que cachorros. Não desista!

Links:
A zillion scientific articles on the phenomenon
Video of a learned helplessness activity in a psychology class
 
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Texto Original: http://youarenotsosmart.com/2009/11/11/learned-helplessness/

Mudança Impercepitível

O Equívoco: Você está consciente de toda informação visual que é enviado a seu cérebro a cada momento.

A Verdade: O cérebro não consegue decodificar toda a informação enviada pelo seus olhos e edita as informações visuais da forma mais simples.

Não perceber pequenas mudanças é um pouco diferente da Cegueira Inconsciente, que é a incapacidade de ver aquilo que está fora de seu foco de atenção. Nesse caso você simplesmente não percebe quando existe uma mudança, mesmo drástica, no seu campo visual de um momento para o outro.


Temos a ilusão que estamos percebendo todas as mudanças no campo visual momento a momento, mas não é o que acontece. Como mostrado no vídeo acima, vários elementos se alteraram sem que a gente os perceba.

Na demostração abaixo feita pela Irvine School of Social Sciences, apenas um elemento da imagem é alterada de uma foto para outra. A maioria das pessoas poderá ficar horas tentando descobrir qual é a diferença entre uma foto e outra, mas não vai descobrir a diferença. Tente descobrir, mas não se fruste se não conseguir.



Depois que você ver a diferença uma vez, nunca mais você deixará de vê-la. Uma parte verde da folhagem é retirada no canto inferior direito.
A realidade é gerada pelo cérebro, baseando-se nos sentidos, mas ele não dá a matéria-prima pura que você captou, ele te dá apenas uma versão editada.

Um dos melhores exemplos disso é a troca de pessoas.

Em um experimento conduzido em Harvard, as pessoas deveriam se aproximar de um homem para assinar um formulário de consentimento. Ele ficava atrás de uma mesa alta, como se fosse um recepcionista de hotel, depois que a pessoa assinava o homem abaixava-se para guardar o formulário, mas era outro homem que levantava para lhe entregar um pacote de informações. A maioria das pessoas não percebia que eram homens diferentes.

Não ache que isso funciona apenas com mudanças rápidas. Pesquisadores da Universidade de Illinois começaram a fazer mudanças graduais em fotos durante um período de tempo e essas modificações nunca eram percebidas pela maioria das pessoas.

Quando se trata de perceber as mudanças do mundo a seu redor, você não é tão inteligente quanto pensa.

Links:
The Invisible Gorilla (Altamente recomendado)
Video of the person swap experiment at Harvard
Video of Derren Brown performing the person swap
Examples of slow changes

Leia também:
http://malditosgregos.blogspot.com.br/2011/09/da-percepcao-da-incongruencia.html

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Texto Original: http://youarenotsosmart.com/2009/11/06/change-blindness/

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Cegueira Inconsciente

O Equívoco: Você vê tudo que se passa em frente a seus olhos e salva as informações visuais como se fosse uma câmera de vídeo.

A Verdade: Você é capaz de perceber apenas uma pequena parte das informações visuais e uma quantidade ainda menor é gravada por sua mente consciente.


"Mágicos" só conseguem aplicar seu ilusionismo por causa da cegueira Inconsciente.

É preciso apenas uma pequena distração para que você não perceba uma mudança visual. A Cegueira Inconsciente é, literalmente, olhar sem ver. O cérebro não é um receptor passivo de seus olhos, ele participa ativamente na escolha dos elementos visuais a que você dá mais atenção, se baseando principalmente em elementos que já são comuns em sua memória.

Você já está familiarizado com o foco de atenção em determinados sons, por exemplo quando você consegue conversar com uma pessoa numa festa onde o som é alto e tem várias outras pessoas falando ao mesmo tempo. Você consegue focar em sons o tempo todo, ao escutar música no trabalho e deixar de ouvir a conversa das pessoas ao redor, "abaixando o volume" dos sons que não te interessam, etc. Mas isso não é tão perceptível quando se trata da visão.

Você fica literalmente cego para aquilo que não está prestando atenção, enquanto os acontecimentos se desenvolvem você tende a filtrar uma quantidade pequena de informação e quando você tenta lembrar dos acontecimentos você tem a ilusão de que gravou mais coisas do que realmente fez. A visão funciona com preenchimento de lacunas, você preenche tudo aquilo que está fora de seu foco com a imaginação.

Portanto quando você lembra dos acontecimentos você só pode ter certeza daquilo que estava em seu foco, todo o resto pode ter sido uma fabricação de sua imaginação, como um sonho. Essa Cegueira Inconsciente também pode acontecer por causa de uma sobrecarga de informações visuais onde todas as informações são familiares. Como Christopher Chabris e Daniel Simons apontam em seu livro "O Gorila Invisível", pilotos experientes tem menos possibilidade de verem um avião em uma pista do que pilotos que fizeram menos voos; médicos experientes tendem a ter mais dificuldade em diagnosticar uma doença peculiar do que médicos recém-formados. Ou seja, pessoas que já estão "viciadas" em certos padrões visuais ficam "cegas" por esses padrões.

Quando se trata de ver tudo aquilo que você está olhando, você não é tão esperto quanto pensa.

Links
The Invisible Gorilla

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Texto Original: http://youarenotsosmart.com/2009/10/01/hello-world/