quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Extinção Forçada - Explosão da Extinção - Recaída (Extinction Burst)

O Equívoco: Se você parar imediatamente de manter um hábito ruim, esse hábito perderá a força até desaparecer de sua vida.

A Verdade: Sempre que você tenta cortar um hábito bruscamente, seu cérebro vai fazer um último esforço para retomar ao velho hábito.

O esforço da Dieta

Mais uma vez você começa uma dieta séria para perder peso; você começa a ler o rotulo de nutrientes de tudo aquilo que come; passa a comer frutas e verduras entra na academia e até instala um aplicativo do seu smartphone para marcar seu progresso.

No começo tudo vai muito bem, você se sente ótimo, incorruptível, a força de vontade em pessoa. Você chega a pensar "até que isso é fácil".

Então certo dia você acaba caindo na tentação e foge um pouco de sua dieta comendo um pedaço de chocolate, ou um pacote de chips, ou toma umas cervejas com os amigos. É apenas uma exceção, é claro, você não se martiriza por isso, afinal pode lidar bem com uma pequena transgressão. Você pensa "Estou fazendo um bom trabalho na dieta, mereço uma recompensa"

Mas um pouco mais tarde você se depara com aquela sensação de ansiedade e pensa "bom, já que fugi um pouco da dieta hoje, acho que vou tirar o dia para comer o que eu quiser". No fim da noite você se deparara com uma caixa de pizza vazia, na mão um último copo de um refrigerante 2 litros e várias embalagens de chocolate à sua volta.

Voltando a si, depois dessa orgia gastronomia, você se assusta e percebe que consumiu naquele dia mais calorias do que havia perdido desde o começo da dieta.

Você acabou de experimentar uma Explosão de Extinção (uma Recaída), uma previsível forma do cérebro desafiar sua vontade consciente para que ele volte a obter recompensas a qual é familiarizado.

O mesmo pode acontecer quando se tenta parar de fumar, beber, usar drogas, acordar tarde ou jogar. O mecanismo é o mesmo para qualquer vício.

Comida, é claro, é uma das mais poderosas recompensas, afinal, é também aquilo que lhe mantém vivo. Seu cérebro não se desenvolveu em um ambiente com excesso de comida, portanto, sempre que você se depara com comidas gostosas e calóricas, você se sente inclinado a comer até se satisfazer, e assim que tiver vontade novamente, você continuará comendo. Temos essa inclinação natural pela comida. Se você retirar essa recompensa da jogada, especialmente se for um corte abrupto nesse fluxo de prazer, o seu corpo tende a reclamar, normalmente causando imensa ansiedade.

Grande parte de nosso comportamento é o resultado de anos de condicionamento. É um dos fatores mais básicos que moldam a forma como qualquer organismo reage ao mundo. Se suas ações levam a resultados positivos, é mais provável que você continue com elas. Seu cérebro cria emoções agradáveis ​​através de toda a química cerebral que reside em si, sempre que você faz algo que beneficia o organismo que ele administra. Se suas ações levam a um resultado negativo, é mais provável que você evite esse comportamento no futuro. Ao longo do tempo, você começa a prever recompensas e punições, ligando mais e mais séries de eventos a seus resultados.

Digamos que você quer comer um hambúrguer. Você sabe que você não pode apenas estalar os dedos e esperar que ele apareça. Você tem se envolver em uma longa sequencia de ações - caminhar até o guarda-roupa, vestir a camisa, encontrar sapatos, encontrar chaves, andar até o carro, dirigir para a lanchonete, usar a linguagem, trocar dinheiro, etc... Esta série de comportamentos pode ser dividida em componentes menores e menores se quisermos, realmente, entender o condicionamento que você sofreu para poder comer um simples hambúrguer. Dirigir o carro do ponto A para o ponto B é uma performance complexa com milhares de etapas, mas que se tornam automáticas após centenas de horas de prática.

Como funciona o condicionamento

Milhões de pequenos comportamentos, cada um sendo apenas uma parte de um processo para uma ação específica, foram desenvolvidos em prol do cérebro ser recompensado. Pense em ratos em um labirinto, eles aprendem uma série complicada de ações - vire à esquerda duas vezes, vire à direita uma vez, vire à esquerda, direita, esquerda, ache o queijo. Mesmo os micro-organismos podem ser condicionados a reagir aos estímulos e a prever resultados.
Puxarei alavancas por comida.

Durante muito tempo a Psicologia Comportamental (Behaviourismo) foi o que há de mais avançado na área da psicologia. Nos anos 60 e 70, Burrhus Frederic Skinner tornou-se uma celebridade cientifica aterrorisando a América com uma invenção chamada de câmara de condicionamento operante - A Caixa de Skinner. A caixa é um gabinete que pode ter qualquer combinação de alavancas, distribuidores de alimentos, piso elétrico, luzes e alto-falantes. Os cientistas colocam os animais na caixa e os recompensam ou os punem para incentivar ou desencorajar seus comportamentos. Ratos, por exemplo, podem ser ensinados a empurrar uma alavanca quando uma luz verde aparecer e assim obter alimento.

Uma vez Skinner demonstrou como ele poderia ensinar um pombo a girar em círculos ao seu comando, para isso ele dava comida ao pombo apenas quando ele girava em uma direção específica. Gradualmente, ele demorava um pouco mais de tempo para dar a comida, assim o pombo girava um pouquinho mais, esperando que assim ganhasse a recompensa. Ele poderia até fazer com que o pombo conseguisse distinguir entre as palavras "bicar" e "virar" escritas em uma folha, e assim faze-lo executar o comportamento especificado. De certa forma, ele ensinou um pássaro a ler.

Skinner descobriu que você poderia fazer com que pombos e ratos executassem tarefas complicadas ao construir lentamente cadeias de comportamentos através da entrega de comida. Por exemplo, se você quiser ensinar um esquilo a esquiar, você só precisa começar condicionando pequenas ações e até que ele tenha aprendido. Outros pesquisadores adicionaram a punição a essas rotinas, e descobriram ela também poderia ser usada como mecanismo para incentivar e desencorajar o comportamento.

Confira abaixo um vídeo resumido sobre a Caixa de Skinner


Skinner ficou convencido de que o condicionamento era a raiz de todos os comportamentos e não acreditava que o pensamento racional tivesse algo a ver com isso. Ele considerou a introspecção como um "produto colateral" de condicionamento. Como Freud e Einstein, Skinner era uma celebridade em sua época, e sua crença de que todos nós éramos "robôs" era inquietante. Ele foi capa da revista Time em 1971. "Meu livro", disse Skinner na entrevista, "é um esforço para demonstrar como as coisas ficam ruins quando você acredita piamente nessa ideia da liberdade e a dignidade individuais. Se você insiste que os direitos individuais são o summum bonum*, então toda a estrutura da sociedade cai ". *o bem maior

Alguns psicólogos e filósofos ainda sustentam a ideia de que você não é mais que um autômato sofisticado, como uma aranha ou um peixe. Você não tem liberdade de fato. Seu cérebro é feito de átomos e moléculas que devem obedecer as leis da física e da química, então alguns dizem que sua mente está presa ao serviço das regras do universo como um relógio. Tudo o que você pensou, sentiu e fez em sua vida foram as consequências matemáticas naturais do Big Bang.

Você pode ficar um pouco mais tranquilo sabendo que esta é uma ideia muito contestada mas, independente se você tem ou não livre-arbítrio, o condicionamento é real na sua vida e o impacto dele não pode ser ignorado.

Tipos de condicionamento
“Não podemos pagar
o luxo da liberdade”

Existem dois tipos de condicionamento: Clássico e Operante. No condicionamento clássico, algo que normalmente não tem influência sobre você se torna um gatilho para uma resposta involuntária. Por exemplo, normalmente tomar banho é uma tarefa comum que não gera nenhum receio, mas se você estiver tomando banho e alguém der descarga, fazendo com que a água do chuveiro se torne extremamente quente, você se condiciona a sair da água caso ouça o barulho da descarga novamente. Isso é condicionamento clássico. Algo neutro - a descarga - passa a ter significado e criar uma expectativa. Você não tem controle sobre isso.

Se você já passou mal depois de comer ou beber algo que adora, você irá evitar comer aquilo novamente no futuro. Dependendo do mal-estar que aquilo tenha lhe causado, até o cheiro, ou mesmo pensar naquilo, pode lhe causar náuseas. O condicionamento clássico mantém você vivo. Você aprende rapidamente a evitar o que pode prejudicá-lo e procurar o que o faz bem.

O tipo de comportamento complexo que Skinner conseguiu moldar foi o resultado do condicionamento operante. O condicionamento operacional modifica os comportamentos existentes, tornando-os mais ou menos frequentes após certos resultados. As inclinações tornam-se maiores através do reforço, ou diminuem através da punição. Você chega cedo ao teatro, você ganha um assento melhor. Você frequentemente lava as mãos, você não fica doente. Você não rouba, você não vai à prisão. Você joga em um caça níquel e, de vez em quando, você ganha algum dinheiro.

É tudo condicionamento operante, punição e recompensa. Sempre uma questão de fugir da dor e ir em busca do prazer.

O que finalmente nos leva de volta ao terceiro fator - Extinção

Quando você está sob o feitiço do condicionamento operante e espera receber uma recompensa ou uma punição após um determinado comportamento, mas não recebe, sua resposta condicionada começa a desaparecer. Mas, assim que o comportamento está quase sendo extinto, é quando você pode esperar uma "Explosão de Extinção", uma Recaída.

Os pais estão muito familiarizados com esse padrão, e se você já viu um episódio de Supernanny, então você provavelmente já viu uma Explosão de Extinção. Em um episódio, uma criança se recusou a ir dormir na cama quando estava na hora de dormir, e os pais iriam lutar com ele durante toda a noite até que ele finalmente ficou inconsciente de exaustão. A Supernanny sugeriu que o colocassem no berço e simplesmente se sentassem no quarto e o ignorassem. A pirraça ia e vinha, e se ele tentasse escapar do berço, eles deviam simplesmente colocá-lo de volta e voltar a ignorar.

Eles seguiram seus conselhos, e a "Explosão da Extinção" foi enorme - a criança gritou, chorou, fez todo tipo de gemidos. Seu pequeno cérebro estava tentando todas as estratégias concebíveis para evitar a Extinção. Foi uma experiência horrível para a mãe, o que era exatamente o que a pirraça da criança queria causar. A mãe chorou, mas ela continuou olhando para a parede, e depois de cerca de 20 minutos, a criança parou, abaixou-se e foi dormir.

Sempre que você tenta desistir de alguma rotina que é praticada há algum tempo seu cérebro vai "fritar" um pouco. Como Matt Webb explica no Interconnected.org - se você usar o mesmo elevador todos os dias para evitar subir 10 lances de escadas e um dia você pressiona o botão e o elevador não vem, você não vai subir as escadas imediatamente. Você começa a apertar todos os botões uma e outra vez, você fica irritado, pede ajuda, fala com outras pessoas, você volta e aperta os botões novamente e, finalmente, você sobe as escadas.

Se o seu computador trava, você não espera ele voltar ao normal, você começa a clicar por todo o lado e talvez até comece a bater nele, tentando, como a criança birrenta no berço, tudo o que você pode fazer para trazer de volta os resultados esperados.

Estas são todas rajadas de extinção. A "Explosão" é um aumento temporário de um comportamento que geralmente precede uma recompensa, uma súplica dos recessos da sua psique assim que a resposta condicionada não está mais produzindo resultados esperados.

Aqui está um ótimo conselho da revista Canine University: "O pior que você poderia fazer é ceder a pirraça. Isso também acontece com os adultos, porque se você gastar tempo suficiente observando outras pessoas, você notará que, as pessoas que se acostumaram com certo mecanismo de recompensa, vão começar a "fazer pirraça" sempre que você recuse a atender seu pedido. Se você reafirmar pacientemente sua posição e ficar calmo, você verá que a pessoa finalmente desiste.

Quanto mais condicionado a pessoa for, maior será a "Explosão de Extinção" que ela terá. Se for de curta duração, acabará tão rápido quanto começou e você pode se sentir bem pelo fato de que você não o incentivou em um hábito ruim. A melhor maneira de eliminar um birra é não ceder."

Voltemos a dieta

Se você eliminar uma recompensa de sua vida, como alimentos deliciosos com alta quantidade de calorias, uma explosão de extinção ameaçará demolir sua força de vontade. Você se torna como uma criança pirracenta de dois anos e, como a criança, se você ceder às demandas, o comportamento será fortalecido novamente. Na próxima vez que você tentar, a explosão virá mais cedo e será mais forte.

As dietas falham por muitas razões, muitas delas associadas ao seu corpo tentando sobreviver em uma situação em que a fome é o menor dos problemas. Para parar de comer demais, ou de fumar, ou de ficar zapeando na Netflix à medida que seu bíceps atrofia, ou qualquer hábito ruim que se formou através do condicionamento, você deve estar preparado para resistir à arma secreta do seu inconsciente: a Explosão da Extinção.

Torne-se sua própria Supernanny, seu próprio Adestrador. Procure recompensas alternativas e reforço positivo. Defina metas, e quando você as atingir, se dê prêmios de sua escolha.

Não se assuste quando chegar na parte difícil. Os hábitos se formam porque você não é tão esperto quanto pensa, e eles cessam nas mesmas condições. Se você está pronto para a Explosão de Extinção, você pode suportar a tempestade e vê-la passar. Você pode assistir o mau comportamento se extinguir, para sempre, e apenas vê-lo como uma parte superada da vida em algum lugar do passado.

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Texto original: https://youarenotsosmart.com/2010/07/07/extinction-burst/

Leia também: A vida como uma prática consciente, um texto sobre como se recondicionar.

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Um filme que ilustra bem essas Explosões de Extinção é o ótimo Requiem para um Sonho.

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